sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Olha...é Natal?

Ridículo que me esteja a sentir assim num centro comercial. Ridículo que não tire este sorriso parvo e o brilhozinho nos olhos e esteja aqui parada no meio do corredor, mas é que há quase dois anos que não via o "meu" Natal. São as àrvores de Natal verdes e as luzes amarelas e o nariz que só agora começa a aquecer, porque veio do frio da rua, que me lembram o calor humano do Natal...irónico que seja neste templo consumista.

Há quase um ano corria para apanhar barcos no Amazonas. Balançava-me dias a fim na rede, sem mais que fazer que olhar o rio, conversar e esperar com muita força conseguir chegar aqui até dia 24:



Chegámos a meio da tarde. 1 hora de autocarro desde Santarém para passarmos de navegar no Amazonas para descansar nas margens do Tapajós. Já levávamos 12 dias de barcos. Precisava de um banho a sério, um quarto só para mim, com uma cama, terra firme e comida que não fosse arroz com feijão. E era Natal!

Mas quase que tinha de me relembrar constantemente disso. Estavam 30 graus e a praia cheia de gente. "Mas estas pessoas não têm de ir preparar a consoada?". Nós, depois de nos instalarmos na nossa "casa na árvore" e darmos um mergulho fomos à procura de um peixinho para noite.

Trouxemos qualquer coisa que tinha bom aspecto e não era caro e que até hoje não consigo pronunciar, no meio de tantos outros com nomes igualmente estranhos. Preparámo-lo com muito carinho e na travessa que conseguimos desencantar na cozinha exterior do Hostel (hosteis na selva = quase ausencia de paredes) e sentámo-nos com as cervejas geladinhas a tentar recuperar um bocadinho do espirito de Natal. Uma hora mais tarde, um mini incendio no forno (nunca mais colocar peixe e azeite numa travessa quase rasa num forno a gás!) e o peixe comido e  juntamos-nos aos outros hóspedes no único restaurante aberto da vila. São 23.30 e já se começa a juntar gente à volta. Forró aos gritos de todo o lado. Há festa na rua e nos bares à volta. Lembro-me de Lisboa à noite no dia 24 e desisto de tentar sentir o Natal... foi uma boa noite, mas Natal não é isto.

E agora estou aqui especada  à porta do centro comercial a olhar para as bolas e as árvores e as luzes, a deixar o brilho entrar por mim adentro e aquecer-me, e a querer fatias douradas e sonhos, e a ir de propósito a casa porque a árvore é para montarmos eu e a minha irmã, e a minha mãe a sorrir enquanto me diz  todos os anos menos o último "só tu para me pores a fazer isto!", e a minha avó a trazer o cabrito para a mesa e a dizer-me que já tem o Eno ali de lado, e eu a engolir mais 2 alperces secos, e o meu avô a dizer disparates que nos fazem rir a todos... até que me dão um encontrão e tenho de sair do caminho, só que nem me importo porque o Natal está a chegar.

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