terça-feira, 26 de outubro de 2010

Notas de viagem

Estamos há 3 noites em El Calafate. Mudança drástica de cenário desde a Peninsula Valdés, onde estivemos antes...nada de novo no país que é a Argentina!

Hoje foi dia de Glaciar Parito Moreno e nao há palavras para descrever o que é aquela massa de Gelo, os tons de azul, o som dos desprendimentos no Lago Argentino, que é uma vista em si só também. Sao sentimentos que tenho de deixar amadurecer antes de poder descrever!

Entretanto, e porque isto de andar de mochileiro e acampar nao combina com as novas tecnologias, deixo-vos agora com algumas notas do meu caderninho. Para que tenham uma ideia do que foi a primeira semana de viagem:

18/10/10

"Venham, Venham! Perguntei-lhes e vao sair já! O tempo está perfeito e pode mudar. Depois montam tudo"

Olhares perdidos entre nós os 2.

"É mélhor. Olhem que o tempo pode mudar! Eu levo a tua mochila."

Acabamos por ir, ainda meio desconfiados. Pagamos os 180 pesos e entramos no barco.

"Nao sei se isto foi boa ideia. Se calhar deviamos ter procurado outros sitios"

2 horas, muitas fotos e outros tanto sorrisos de espanto mais tarde nem sequer me ocorre questioná-lo. Mar espelhado, ausência de nuvens e baleias francas a 1 metro do barco é tudo o que me lembro. E aquele som, como se fosse água a ser espelida de um tubo de orgao. Somesse que também se ouve da praia, ao pôr do sol, enquanto tentamos captar o fogo que parece ter tomado as nuvens!


19/10/10

O Nuno está a fazer o fogo para assar a carne e os pimentos. Eu, lentamente, começo a habituar-me à vida de campista. Até à próxima vez que esteja cheia de frio, ou que nao consiga dormir, ou que tenha de por a mochila às costas! Mas por enquanto estamos aqui, só a aproveitar a praia.

Ainda nao tinhamos conseguido arranjar maneira de dar a volta à Peninsula sem se em excursao, mas em conversa com o casal que está ao nosso lado, e em nome da solidariedade do viajante acabámos de o fazer.

"Eu também andei pela Escandinávia e encontrei muita gente que me levava onde eu precisava, por isso acho que tenho uma dívida para com os outros viajantes!" diz Evelyn, Suíça Alema.

Assim, amanha saimos na casa móvel dela, o marido e a pequena Salomé a ver os leoes marinhos, os pinguins e, com alguma sorte, alguma Orca perdida...sem gastar os 360 pesos que nos sairia a excursao!

20/10/10

Nao tenho palavras para descrever o que senti ao ver Pinguins de Magalhaes a meio metro de mim, ao ouvir o som dos Lobos marinhos e ver como se arrastem pela barriga, gordos, gigantes, desengonçados, enquanto outros apanham sol, dando só sinal de vida ao mexer uma barbatana e atirar areia para o dorso.

Tudo isto numa paisagem que muda constantemente. Uma costa que só se deixa vislubrar de quando em quando, numa curva da estrada, numa descida súbita depois de uma recta interminável e que muda de falésia profunda, a praia, a peninsulas dentro da peninsula que formam golfos de água azul esverdeada onde, sorte nossa, 3 orcas entraram e têm de esperar que encha a maré de novo para sair.

Para celebrar, e porque poupámos na excursao, concedemo-nos O luxo desta primeira parte da viagem. Jantámos fora...e que saudades de umas conchinhas, e de estar sentada numa mesa num sitio quentinho, com um vinho a discorrer de tudo o que já vimos e do que está para vir...

21/10/10

Supostamente hoje seria um dia de praia, mas o vento frio nao nos deixa. Relaxámos de manha junto à tenda a por a escrita e a leitura em dia e o Nuno anda de novo de volta do fogo para fazermos o almoço.

(...)

A tarde compôs-se e acabou por ser de praia. Que bom adormecer a ouvir o mar...e as baleias!

22/10/10

Cortando caminho por cima das falésias, subindo directamente da praia, conseguimos chegar a Punta Piramides em menos de uma hora.

A loberia tinha um aglomerado de 20/30 lobos marinhos, com algumas crias e pelo menos 3 machos em que conseguimos perceber a juba característica. Os sons ouviam-se perfeitamente apesar do vento forte e também conseguimos ver, num grupo de 3 que estavam mais perto um bocejar claríssimo e um coçar da barriga hilariante...conseguia estar horas a olhar para eles!

Como o vento estava impossível subimos até à cabine do guarda fauna para comer. Apesar do ar de "velho do Restelo", depois de quebrado o gelo inicial com alguma perguntas ainda aprendemos que as Orcas às vezes caçao Baleias Francas em alto mar e a que nos cedesse o seu telescópio, que deu um jeitao quando as baleias começaram a aparecer.

Distraídos que estávamos com o pao com salsicha quase nao demos porque tinham começado aos saltos! Agora sim, a experiência estava completa!

À volta conseguimos boleia à primeira esticadela de dedo. Amanha vamos tentar voltar assim a Puerto Madryn.

23/10/10

As (minhas) fases da boleia:


1 . Até aos 30 minutos de espera
Confiança: A qualquer momento passa/pára um (se realmente acontece o grau de confiança da próxima vez está nos píncaros)

2 . Até à 1h30 de espera
Esperança: Vai parar, vai parar, vai parar... (suspiro de alivio se acontece)

3 . Até às 2h30 de espera
Aborrecimento: Estou farta de aqui estar, nunca mais param! (cara de êxtase se param)

4 . Até às 3.30h de espera
Fúria: $%%&·/(?) Porque é que nao param!! (se param...só quero que o carro arranque!)

5 . Até às 4h de espera
Desespero: Nao sei o que é que estou aqui a fazer, mas também nao posso desistir agora! (cara de "o mundo esteve para acabar, mas chegou o salvador" se param!)

6 . Ás 5h de espera
Resignaçao: Apanhamos o autocarro e pronto...

(De notar que sabiamos que o autocarro saía aqulea hora, e que nao havia outro antes...caso contrário nao acho que me tivesse agunetado tanto tempo!)

Se quiserem por imagens com estas palavras, vao passando por aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ontem

Eram 4.30. O trabalho estava terminado e tinham-me levado até à praça S. Martin. Estava calor e não me apetecia ir para casa. Passei em frente ao Cabildo Histórico e a recordação dos claustros brancos e frescos levou-me a entrar. Deparei-me com isto.

Segui então estas pegadas e surpreendi-me com a presença de comunidades imigrantes de países tão distintos. Eu sabia que a Argentina foi um país de acolhimento para muitos Europeus durante a 2ª guerra mundial, mas Coreia? Japão?

Tive pena de não poder ficar para o documentário "Los Cubanos" seguido de degustação de mojitos e charutos, mas quero voltar para as actividades organizadas para as outras comunidades.

Deixei-me ficar mais um pouco, as fotos da mostra Ciudades (in)visibles prendem-me o olhar, mas pedem-me mais atenção. Tomo nota da instituição responsávele prometo voltar com mais tempo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

De volta a Cordoba

Talvez tenha sido porque já sei que me vou embora.

Talvez como uma forma inconsciente de me proteger, ou talvez porque me deixei acomodar sem dar por isso. O certo é que já há algumas semanas que não me procurava em Cordoba, que não a aproveitava, que não a deixava mostrar-se. E se não pensava muito nisso conscientemente, vejo agora que alguma coisa me pesava. Um desconforto quase imperceptível, como um zumbido nos ouvidos que só nos apercebemos que está lá quando desaparece.

E agora que desapareceu dei por ele.

Talvez tenha sido a risada há volta da Bagna Cauda no sábado há noite.
Talvez tenha sido a tarde de Domingo que passou sem dar por isso, estendida na relva, entre mates, fotos e conversas tão inúteis como fascinantes.
Talvez tenha sido a percepção da falta que vou sentir do gelado ao domicilio.



A verdade é que voltei à minha Cordoba este fim de semana, e ainda que saiba que o meu tempo aqui acabou, que já retirei dela o que precisava, que está na altura de seguir em frente, foi muito bom reencontrá-la!